Combate à violência tem corte de verba
FOTO: ALISSON GONTIJO - 2.6.2011
Das 58 unidades do Gepar em Minas, 16 estão na capital
Ao
mesmo tempo em que o governo mineiro descarta a implantação de uma
polícia pacificadora no Estado, nos mesmos moldes das Unidades de
Polícia Pacificadora (UPPs), do Rio de Janeiro, um dos principais
programas de prevenção ao crime em Minas Gerais sofre com a falta de
recursos. Criado em 2003, o Grupo Especializado de Policiamento em Áreas
de Risco (Gepar), bandeira da Polícia Militar no combate à
criminalidade, amargou um corte de 20,6% no orçamento de 2011.
De acordo com a Assessoria de Estratégias Preventivas do Estado
Maior da PM, a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) tinha
planejado enviar R$ 968 mil, no ano passado, para a atuação do Gepar em
aglomerados onde também funciona o Fica Vivo, outro programa estadual de
prevenção à violência. Porém, o orçamento foi alterado e o repasse
reduzido a R$ 768 mil. "O corte foi significativo e impede o trabalho
efetivo do Gepar. Tem equipe que ficou sem viatura para fazer ronda",
disse o sargento Aricélio Santos, auxiliar na assessoria de estratégias
preventivas da PM.
O policial explicou ainda que a redução da verba dificulta a
revitalização das unidades do Gepar já existentes e também a criação de
novos grupos. "Em 2011, identificamos a necessidade de montar duas novas
equipes e reestruturar outras duas no Estado, mas nem sempre o batalhão
mais próximo tem condições de fazer esse investimento", completou.
Atualmente, o projeto está presente em 58 aglomerados, sendo 33 na
capital e na região metropolitana, onde há alto índice de criminalidade.
A Seds foi procurada para falar sobre o corte no orçamento, mas não
respondeu até as 20h de ontem.
Para especialistas, o Gepar é o programa mais próximo que Minas
tem do modelo de polícia pacificadora, que conseguiu resultados bastante
satisfatórios no Rio. A filosofia do Gepar é atuar na repressão à
criminalidade, mas em parceria com a comunidade, em ações que preservem
noções de direitos humanos e a mediação de conflitos.
"A iniciativa é muito interessante, mas falta interesse por parte
do governo em priorizá-la. É preciso fortalecer a atuação do Gepar, com
rondas 24 horas e aumento do efetivo", disse o sociólogo e
ex-secretário adjunto de Defesa Social Luis Flávio Sapori. A PM informou
que 400 militares estão treinados para atuar no Gepar, mas não
disponibilizou dados sobre quantos atuam nos aglomerados.
Abordagem humana
Para quem convive com a
violência, os programas de prevenção precisam de reforço. "Quando
ligamos para o Gepar, eles demoram muito para. Quando vêm, o crime já
aconteceu", reclama o líder comunitário do aglomerado da Serra, Gilson
Guimarães. O local conta também com o Fica Vivo. Segundo ele, o primeiro
passo é treinar melhor os militares para o policiamento comunitário. "É
preciso preparar melhor para que o policial tenha uma abordagem mais
humana". A Seds informou, em nota, que o Estado adota um modelo
diferente de "pacificação". "Em vez de a polícia ocupar aglomerados, em
Minas, a cultura, o esporte, o lazer e as atividades profissionalizantes
fazem esse tipo de ocupação".
"Ações pararam no tempo"
O
Gepar e o Fica Vivo, carros-chefes do governo mineiro na prevenção à
criminalidade, estão "parados no tempo". É assim que especialistas em
segurança pública avaliam o estágio atual dos programas. Ambos foram
lançados em 2003 e tiveram, no início, um importante papel para a
redução da violência.
No entanto, houve poucas inovações, o que, na opinião dos
estudiosos, contribuiu para o aumento de 22,1% no número de homicídios
na capital, entre 2010 e 2011, conforme dados da Secretaria de Estado de
Defesa Social (Seds). "O impacto do Gepar é menor do que das UPPs, que
deveriam ser adotadas em todo o país", disse o sociólogo Luis Flávio
Sapori.
No caso do Gepar, uma das deficiências apontadas é a pouca
abrangência do programa e o número reduzido de policiais nos
aglomerados. "Cada localidade reúne, no máximo, 18 policiais do Gepar e o
ideal seria, no mínimo, 40", disse Sapori. A Polícia Militar confirma
que, para cada ponto de atendimento, são deslocados, em média, oito
militares.
Para o pesquisador Luís Felipe Zilli, o Fica Vivo não evoluiu
como deveria. De janeiro a dezembro de 2011, a meta era atender 58,1 mil
jovens, mas o programa só alcançou 54.186 pessoas.
Além do trabalho com jovens de áreas vulneráveis, o programa faz o
diagnóstico da dinâmica criminal dos aglomerados. "O programa é
excelente, mas precisa se reinventar. A parte de diagnóstico, por
exemplo, está desarticulada", disse Zilli. (LC)
Fonte:
http://www.otempo.com.br/supernoticia/noticias/?IdNoticia=69777,SUP&IdCanal=2